7 de fev. de 2011

Os nomes dos lugares de São Paulo

A origem dos nomes dos endereços paulistanos remete e remexe a um passado longínquo e desconhecido para muitos, mais ou menos quando a Dercy Gonçalves era viva e o Silvio Santos vendia lingüiça para amarrar cachorro.  Enfim, São Paulo não estava tão judiada, ainda era possível respirar aqui, mas vá lá, já aconteciam coisas do arco da velha. E a velha era moça! Bem, lasque-se: vamos logo ao contexto histórico.

São Paulo: A cidade tem esse nome na verdade por causa de seu primeiro patrono político – Doutor Paulo Salim Maluf. Na época, ele já disputava o poder com o Mário Covas, o Adhemar de Barros, o Jânio Quadros, o Tiririca, e o José Sarney. Mas o campeão de obras era ele, especialmente as inacabadas, sem dúvidas. Até hoje Maluf é o dono da segunda maior fábrica de cimento do país (para a alegria do Antônio Ermírio de Moraes). E o povo dizia: “Ta vendo aquele prédio, aquela ponte, e aquele viaduto, moço? Não? Pois é: São tudo obra de Paulo.

Praça da Sé: Antigamente, no terreno que circunda a praça, havia uma feira comandada por um chinês sacana chamado Tsé. Ele vendia de tudo, até o que não podia – dizem que ele rifou a mãe no mesmo leilão que o do Ronaldinho Gaúcho. Um dia, a igreja quis retomar seu espaço por meio da inquisição, e não houve mais maneira de continuar na praça, e nem nas áreas que hoje compreendem o Pateo do Collegio e o Mosteiro de São Bento. Para não perder o fio da meada, a igreja mudou o nome da praça para ‘Sé’, e construiu uma puta catedral para justificar essa menção.

Pateo do Collegio: Escrito com a letra ‘e’ mesmo, foi o lugar onde houve o primeiro forró da cidade. Os jesuítas, nas suas tentativas de catequizar os índios, criaram uma série de atividades recreativas. Mas do que os índios gostavam mesmo eram das recreações noturnas, e não deu certo. No pátio da escola dos jesuítas ocorria o forró e o forrobodó. Não demorou muito para tornar-se um dos lugares mais famosos da cidade.

Anhangabaú: O primeiro dos nomes indígenas na cidade de São Paulo. Significa a glória de Silvio Santos, que pegou a Anhanguera e gabou-se de seu baú.

Anhanguera: É o famoso bandeirante que ninguém lembra o nome, mas todos temem por causa de sua crueldade. Significa, no indígena velho do onça, ‘o que come na guerra’, literalmente, o pau. Era tão perigoso que fizeram uma estrada somente para que os outros bandeirantes não cruzassem seu caminho. Daí a origem das duas rodovias que ligam São Paulo ao estado de Campinas.

Morumbi: Naquele tempo o bairro já era conhecido como reduto da torcida são-paulina. Os corintianos, para sacanear, diziam quando iam jogar no campo do bairro ‘onde mora um bi’ – termo originado do verbo Bicha. Mesmo com as sucessivas pancadarias, o termo se popularizou, sendo utilizado até pelos moradores do bairro.

Capão Redondo: Refere-se ao primeiro disco dos Racionais, que ‘saiu num capão redondo com um furo de bala no meio’.

Itaquera: O nome do bairro vem da expressão ‘E ta que era’, que servia para designar que uma coisa está como foi. Era como os moradores do centro diziam que o bairro ficava muito longe, mesmo com a expansão habitacional.

Jabaquara: Significa no indígena velho do onça ‘jabá da taquara rachada’, expressão muito usada para apontar que o lugar era onde ficavam os anunciadores de lotação da rodoviária na qual o povo desce para o estado de Santos.

Tremembé: Os índios brasileiros, por vezes cansados de tanto tomar sol e beber água de coco, inventavam de brincar de guerra para passar o tempo. As guerras não eram muito violentas, envolviam apenas alguns episódios de canibalismo, e disso todos gostavam. Uma tribo, muito violenta, começou à levar a brincadeira à sério. Era a tribo do Tremembé, pela qual os inimigos ‘tremiam e faziam Bé’ – numa referencia ao mugir de medo do carneiro. O conflito entre eles e o resto da cidade com banho de sangue foi inevitável, e terminou com a derrota dos doidões após muito sacrifício humano. Para enterrar o corpo dos vencidos convencidos, foi criado o cemitério, e os peões da obra fizeram o bairro no seu entorno.

Mandaqui: Não tem nada à ver com o termo ‘quem manda aqui sou eu’. O nome do bairro vem da expressão ‘manda aqui que a gente resolve’, da mais antiga malandragem do lugar, outrora periférico.

Peri: É simplesmente o diminutivo de ‘periferia’. O Jardim Peri Alto, por sua vez, tem esse nome não pela sua topografia, mas por ser sede de um antigo alambique.

Jaçanã: Não tem nada a ver com o cabeleireiro Jassa. Foi lá onde ocorreu o primeiro enterro de uma anã da cidade, transmitido pela TV Tupi. De ‘jaz a anã’ virou Jaçanã.

Tatuapé: Não tem nada a ver com o buraco do tatu. Naquele tempo, não havia nem bonde, e o povo ia andando para o extremo oriente paulistano. Se um guarda ou deputado traficante parava a procissão, em busca de propina, qualquer gaiato advertia ao safardana: “Aqui to eu a pé, ta tu a pé, ta todo mundo a pé. Não venha nos roubar!” E a frase garantia a segurança da população.

Mooca: Do indígena velho do onça, significa ‘mó oca’, representando a vocação dos bairros da Zona Leste em acumular a maior parte da negada paulistana.

Liberdade: A história do nome do bairro não tem ligação com a fuga de escravos ou a imigração oriental. A Liberdade tem esse nome porque lá ficava um grande forró onde as pessoas casadas trocavam de par. O forró acabou, com a chegada dos japoneses, mas o nome ficou.

Pirituba: Vem de ‘Peri turba’, semelhante ao termo perturba, o mesmo que turba da periferia, ou turba do Peri, do inglês fluvial tele-marqueteiro.

Pari: Lugar onde foi inaugurada a primeira maternidade de São Paulo, obra assinada pelo pintor Jânio Quadros.

Barra Funda: Referência aos primeiros moradores da região, que usavam pés-de-cabra para se defender de assaltos que eles cometiam.

Cambuci: Significa no indígena velho de Hebe ‘camburão, se lascou’, expressão usada pelos camelôs e traficantes que trabalhavam na época, para avisar que a polícia vinha instalar uma unidade de pacificação pela bordoada no lugar.

Ipiranga: Vem da expressão ‘E pira se ranga’, que demonstra a passionalidade do relacionamento entre Dom Pedro I e a Marquesa de Santos, quando eles se encontravam no matagal próximo ao córrego da independência.

Ibirapuera: Veio da frase “E Bira para o povo era...”, decorrente das primeiras eleições no município, entre os índios Ubirajara e Tabajara, e Paulo Maluf. Ubirajara era o candidato, e Tabajara, o vice. Os índios ganharam, assumiram, mas na metade do mandato Ubirajara morreu. Tabajara, para homenagear, fundou o Parque do Ibirapuera em alusão a essa frase. Embora a gestão de Ubirajara tenha sido aprovada como nunca na história deste país, a de Tabajara foi tabajara, e Maluf ganhou a disputa da sucessão. Para sacanear, o árabe disse que o significado de Ibirapuera era ‘pau podre’. Foi o primeiro de seus quatrocentos mandatos, sem contar os de Celso Pitta.

Praça Ramos de Azevedo: Ramos de Azevedo foi o arquiteto que construiu o Teatro Municipal, isso é verdade. Mas a existente no centro da cidade não recebeu esse nome só em homenagem a ele. Existia nessa praça o forró do Azevedo, um parente distante e do Norte do renomado cara. O forró ia bem das pernas, até que o prefeito da época, Deodoro da Fonseca, proibiu a balbúrdia e disse que o povo deveria procurar outro lugar para farrear. E o povo disse: “Então ramos embora do forró de Azevedo.” O prefeito, com medo de perder espaço para o candidato oposicionista e ator da TV Globo, Floriano Peixoto, decidiu fundar um teatro para agradar o público da zona, com o apoio do próprio Azevedo e seu primo arquiteto. Mas no lugar só tinha ópera e o movimento esfriou. Deodoro perdeu a eleição, e o Teatro só teve outra chance de prosperar enfim na Semana de Arte Moderna de 1922, onde todos os artistas se apresentaram sem camisa e de cabelo moicano.

Moema: remete à expressa ‘mó ema’, que significa ‘maior ema’, que é antônimo do verbo Emo. Moema era uma índia sapatão, que comeu o Caramuru quando ele chegou no Brasil. Desse modo se diz que ela era a ‘maior ema do país’. Paraguaçu, outra índia sapatão que roeu a carcaça do branco português, ia ser o nome de bairro também. Mas um parente seu, o político ladrão Odorico Paraguaçu, sujou o nome da família. Para não perder o préstimo, foi fundada em sua homenagem a Vila Ema, que não é a ‘maior ema’, mas também é macho.

Sapopemba: No indígena velho de guaraná com uísque, é o mesmo que ‘viu o sapo e pemba’, expressão usada para dizer que a polícia via que a multidão do comício do Lula já chegava na divisa de São Paulo. Como o Lula é um sapo barbudo, a polícia ia lá e ‘pemba’ em toda a rapaziada que curtia o discurso dele.

Marginal Tietê: Existia entre os índios um ladrão chamado Tietê, que no indígena velho de Matusalém significa ‘tio extraterrestre’, nome dado ao jovem devido sua feiúra. O bandido morava na Penha, e corria pela margem do rio até a Lapa. O caminho que ele fazia recebeu o nome de ‘Avenida do Marginal Tietê’, que acabou batizando também o rio, após morrer afogado numa enchente.

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