Uma jovem estudante de direito, paulistana até que se prove o contrário, postou no Twitter um comentário que arrepiou os cabelos de muito careca. Ela, contrariada após a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2010, deu a louca, e colocou a culpa toda da desgraça nos nordestinos, acusando-os de burrice da moléstia e pedindo para que os mesmos fossem 'afogados'. Eis o picadeiro armado.
Nada mais estúpido que um pensamento como esse. São Paulo é, hoje, uma cidade nordestina. São três milhões de emigrantes, três milhões de descendentes e cinco milhões de agregados, totalizando os quinze milhões que sobrevivem aqui ou coisa parecida. Se contarmos o perímetro urbano inteiro, são mais de trinta milhões de nordestinos, incluindo imprensa e não pagantes.
Não existe paulistano em São Paulo. É lenda. Se um fluminense te disser o contrário, é mentira. Todos os paulistanos são nordestinos. Até os estrangeiros. É um fato: todos aqui são retirantes. Os italianos? São de Feira de Santana. Os portugueses? São de Juazeiro. Os espanhóis? De Campina Grande. Os Árabes? De Caruaru. Até os japoneses daqui vieram de Orós.
São Paulo é, sem dúvidas, a maior cidade do Nordeste. Chegará o dia, e ele não se faz distante, que São Paulo será chamada de Nordeste e o Nordeste de São Paulo. E o sertão vai virar mar! Pelo que consta, tramita um projeto junto à câmara dos vereadores que visa mudar o nome de São Paulo para “Nova Canudos”, e que o prefeito seria substituído pelo Antônio Conselheiro ou Luiz Gonzaga. O que seria danado de bom.
São Paulo é, sem dúvidas e com dívidas, uma cidade cabra da peste. Ou melhor, não é: cabra da peste é gíria para quem vem de fora. E como todos os paulistanos vieram de muito longe para trabalhar e talvez encher os bolsos aqui, fica o paradoxo. Paradoxo mesmo é uma paulistana falar mal de um nordestino. Pois, muito provavelmente, corre nas suas veias o sangue com que se fez nosso diversificado país.